
Variedades lingüísticas (1)
Preconceito e uso da língua
|   Cartaz de antiga organização de racista norte-americana | 
  No entanto, ao mesmo tempo que reconhecemos a existência de variedades  lingüísticas, tendemos a considerá-las a partir de uma escala de valor,  que muitas vezes revela um caráter discriminatório em relação ao uso que  grupos sociais fazem da língua. Este surge, então, como errado,  inaceitável, engraçado, etc.
   Veja, por exemplo, o texto publicado em Spectrum, organizado por Michael  Swan, Cambridge University Press, 1980, p. 68 e reproduzido aqui:
| "Face,          facts, man _ you're an underprivileged black radical left-wing  unemployed          person of no fixed address with an Irish accent _ of course  you're guilty!" | 
  Suspeitos habituais
Observe que a entonação da variedade irlandesa do inglês compõe um texto  em que a posição de classe, a raça, a escolha política, o fato de estar  desempregado e de não possuir endereço fixo, para aqueles que não sabem  como conviver com as diferenças e respeitá-las, se constituem em  elementos que desabonam a conduta de alguém a ponto de considerá-lo  culpado (supostamente por algum ato socialmente reprimido).  A origem  dos preconceitos  está, freqüentemente, na dificuldade que muitas pessoas revelam em  aceitar que os outros possam ser diferentes. E isso se dá até mesmo em  relação ao uso que fazemos da língua.
   Práticas sociais
Muito da legitimidade social que tem uma variedade lingüística em  detrimento de outra pode ser compreendida por meio da análise de outras  questões que não a lingüística propriamente dita. São questões que  revelam o lugar que determinados povos, grupos ou pessoas ocupam no  imaginário popular, ou seja, a forma como aprendemos (socialmente e  historicamente) a considerar o outro e a nos relacionarmos com ele.
  Quando propomos que o estudo lingüístico seja tomado a partir das  práticas sociais e com base na idéia de adequação da linguagem às  situações de comunicação em detrimento de uma perspectiva centrada na  língua culta e no erro, estamos considerando a existência de uma  multiplicidade de usos da língua e, portanto, valorizando os sentidos  que os sujeitos atribuem a ela.
  Nesse sentido, quando buscamos estabelecer a interlocução com alguém ou  com um grupo de pessoas, estamos procurando nos fazer entender e,  sobretudo, nos dispondo a conhecer o outro, sua forma de ser e de  pensar, e a compreendê-lo. Há nesse movimento mediado pela linguagem,  uma aproximação entre pessoas diferentes, que fazem uso da língua de  maneira diferente e cujo uso pode revelar as concepções de mundo, do  outro e de si mesmo que esses sujeitos compartilham.
 
 
 
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