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quarta-feira, fevereiro 17, 2010

PRECONCEITO: NÃO PASSE ADIANTE...

Variedades lingüísticas (1)

Preconceito e uso da língua

Celina Bruniera*

Reprodução

Cartaz de antiga organização de racista norte-americana

Em lugares diferentes, em grupos sociais diferentes, entre pessoas de gerações diferentes encontramos um grande número de variedades lingüísticas, ou seja, encontramos diferentes usos de uma mesma língua. Embora tenhamos mais facilidade de perceber isso no que diz respeito ao português, esse é um fenômeno que ocorre em relação às mais diversas línguas.

No entanto, ao mesmo tempo que reconhecemos a existência de variedades lingüísticas, tendemos a considerá-las a partir de uma escala de valor, que muitas vezes revela um caráter discriminatório em relação ao uso que grupos sociais fazem da língua. Este surge, então, como errado, inaceitável, engraçado, etc.

Veja, por exemplo, o texto publicado em Spectrum, organizado por Michael Swan, Cambridge University Press, 1980, p. 68 e reproduzido aqui:

"Face, facts, man _ you're an underprivileged black radical left-wing unemployed person of no fixed address with an Irish accent _ of course you're guilty!"

Suspeitos habituais
Observe que a entonação da variedade irlandesa do inglês compõe um texto em que a posição de classe, a raça, a escolha política, o fato de estar desempregado e de não possuir endereço fixo, para aqueles que não sabem como conviver com as diferenças e respeitá-las, se constituem em elementos que desabonam a conduta de alguém a ponto de considerá-lo culpado (supostamente por algum ato socialmente reprimido). A origem dos preconceitos está, freqüentemente, na dificuldade que muitas pessoas revelam em aceitar que os outros possam ser diferentes. E isso se dá até mesmo em relação ao uso que fazemos da língua.

Práticas sociais
Muito da legitimidade social que tem uma variedade lingüística em detrimento de outra pode ser compreendida por meio da análise de outras questões que não a lingüística propriamente dita. São questões que revelam o lugar que determinados povos, grupos ou pessoas ocupam no imaginário popular, ou seja, a forma como aprendemos (socialmente e historicamente) a considerar o outro e a nos relacionarmos com ele.

Quando propomos que o estudo lingüístico seja tomado a partir das práticas sociais e com base na idéia de adequação da linguagem às situações de comunicação em detrimento de uma perspectiva centrada na língua culta e no erro, estamos considerando a existência de uma multiplicidade de usos da língua e, portanto, valorizando os sentidos que os sujeitos atribuem a ela.

Nesse sentido, quando buscamos estabelecer a interlocução com alguém ou com um grupo de pessoas, estamos procurando nos fazer entender e, sobretudo, nos dispondo a conhecer o outro, sua forma de ser e de pensar, e a compreendê-lo. Há nesse movimento mediado pela linguagem, uma aproximação entre pessoas diferentes, que fazem uso da língua de maneira diferente e cujo uso pode revelar as concepções de mundo, do outro e de si mesmo que esses sujeitos compartilham.

* Celina Bruniera é mestre em Sociologia da Educação pela USP e assessora educacional para a área de linguagem.

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