.............ASSIMILAÇÃO NATURAL - ENSINO FORMAL
"El proceso de adquisición de la segunda lengua se considera un
proceso de aprendizaje de vida, ..." (Anna. I. Escalante, St Thomas University,
Houston TX 05/1997)
"Acquisition requires meaningful interaction in the target language
- natural communication - in which speakers are concerned not with
the form of their utterances but with the messages they are conveying
and understanding." (Stephen Krashen)
A expressão "aprendizado de línguas" abrange dois conceitos claramente distintos,
porém raramente compreendidos. Um deles é o de adquirir conhecimento através
de esforço intelectual e acumular este conhecimento pelo exercício da memória.
O outro refere-se ao desenvolvimento da habilidade funcional de interagir com
estrangeiros, entendendo e falando sua língua. O primeiro conceito é denominado
em inglês de language learning, enquanto que para o segundo, usa-se o termo
language acquisition, sendo que um não é decorrência natural do outro como
demonstramos a seguir.
Esta distinção entre acquisition e learning é uma das hipóteses (a mais importante) estabelecidas por Stephen Krashen em sua respeitada teoria sobre aprendizado de
línguas estrangeiras.
Language acquisition, portanto, refere-se ao processo de assimilação natural,
intuitivo, subconsciente, fruto de interação em situações reais de convívio humano,
em que o aprendiz participa como sujeito ativo. É semelhante ao processo de
assimilação da língua mãe pelas crianças; processo este que produz habilidade
prático-funcional sobre a língua falada e não conhecimento teórico; desenvolve
familiaridade com a característica fonética da língua, sua estruturação e seu
vocabulário; é responsável pelo entendimento oral, pela capacidade de
comunicação criativa, e pela identificação de valores culturais. Ensino e
aprendizado são vistos como atividades que ocorrem num plano pessoal-psicológico.
Uma abordagem inspirada em acquisition valoriza o ato comunicativo e desenvolve
a autoconfiança do aluno.
Exemplo clássico de language acquisition são os adolescentes e jovens adultos que
residem no exterior durante um ano através de programas de intercâmbio cultural,
atingindo um grau de fluência na língua estrangeira próximo ao da língua mãe,
porém, na maioria dos casos, sem nenhum conhecimento a respeito do idioma.
Não têm sequer noções de fonologia, nem sabem o que é perfect tense, verbos
modais, ou phrasal verbs embora saibam usá-los intuitivamente.
O conceito de language learning está ligado à abordagem tradicional ao ensino
de línguas, assim como é ainda hoje geralmente praticada na escola secundária.
A atenção volta-se à língua na sua forma escrita e o objetivo é o entendimento
pelo aluno da estrutura e das regras do idioma através de esforço intelectual e
de sua capacidade dedutivo-lógica. A forma tem importância igual ou maior do
que a comunicação. Ensino e aprendizado são vistos como atividades num plano
técnico-didático delimitado por conteúdo. Ensina-se a teoria na ausência da prática.
Valoriza-se o correto e reprime-se o incorreto. O professor assume o papel de
autoridade no assunto e a participação do aluno é predominantemente passiva.
No caso do inglês ensina-se por exemplo o funcionamento dos modos interrogativo
e negativo, verbos irregulares, modais, etc. O aluno aprende a construir frases no
perfect tense, mas dificilmente saberá quando usá-lo. É um processo progressivo
e cumulativo, normalmente atrelado a um plano didático predeterminado, que
inclui memorização de vocabulário e que busca transmitir ao aluno conhecimento
metalingüístico a respeito da língua estrangeira, de seu funcionamento e de sua
estrutura gramatical com suas irregularidades, de seus contrastes em relação à
língua mãe, conhecimento este que espera-se venha a se transformar na habilidade
prática de entender e falar essa língua. Este esforço de acumular conhecimento torna-se frustrante na razão direta da falta de familiaridade com a língua.
Exemplo clássico de language learning são os inúmeros graduados em letras, já
habilitados porém ainda com extrema dificuldade em se comunicarem na língua
que teoricamente poderiam ensinar.
Professores não-nativos em geral levam vantagem sobre os nativos em progrmas
inspirados pelo conceito de learning. Em language acquisition não há propriamente
um professor, há, isto sim, interação humana entre pessoas que representam
diferentes línguas e culturas, na qual um funciona como agente facilitador e através
da qual o outro (aprendiz) escolhe seu próprio caminho construindo sua habilidade
na direção de seus interesses pessoais ou profissionais. Enquanto que programas
de ensino baseados em language learning oferecem um plano didático, programas
de language acquisition oferecem uma experiência de convívio. Instrutores nativos
em geral levam larga vantagem numa abordagem comunicativa, inspirada pelo
conceito de language acquisition.
Estabelecida claramente esta distinção, Krashen sustenta que a única função do
conhecimento obtido através de language learning é a de monitorar a fala. Entretanto,
este monitoramento só será eficaz se o aluno-aprendiz estiver desenvolvendo em
paralelo sua familiaridade e sua habilidade com a língua em ambientes próprios.
Além disso, o efeito deste monitoramento sobre a performance da pessoa,
dependerá muito da característica de personalidade de cada um.
Pessoas que tendem à introversão, à falta de autoconfiança, ou ao perfeccionismo,
pouco se beneficiarão de um conhecimento da estrutura da língua e de suas
irregularidades. Pelo contrário, no caso de línguas com alto grau de irregularidade
(como o inglês), poderão desenvolver um bloqueio que compromete a espontaneidade
devido à consciência da alta probabilidade de cometerem erros.
Por outro lado, pessoas que tendem à extroversão, a falar muito, de forma
expontânea, às vezes impensada, também pouco se beneficiarão de learning, uma
vez que a função de monitoramento é quase inoperante, está submetida a
uma personalidade intempestiva que se manifesta sem maior cautela. Os únicos
que se beneficiam de learning, são as pessoas cuja característica de personalidade
se situa num ponto intermediário entre a introversão e a extroversão, as quais
conseguem aplicar a função de monitoramento de forma moderada e eficaz.
Mesmo assim, numa situação real de comunicação o monitoramento só
funcionará se ocorrerem 3 condições simultaneamente:
............Preocupação com a forma: que a pessoa concentre atenção
...................não apenas no ato da comunicação, no conteúdo da mensagem,
...................mas também e principalmente na forma.
.............Existência e conhecimento da regra: que haja uma regra que se aplique
............ao caso, e que a pessoa tenha conhecimento desta regra e possíveis
............exceções.
.............Tempo suficiente: que a pessoa disponha de tempo suficiente par
.............avaliar as alternativas com base nas regras incidentes.
Krashen também sugere que a estrutura gramatical de uma língua pode ser
demasiadamente complexa e abstrata para ser transformada em conhecimento
através de esforço intelectual. E mesmo que algum conhecimento parcial do
funcionamento da língua seja alcançado, o mesmo não se transforma facilmente
em habilidade comunicativa. O que ocorre na verdade é uma dependência
contrária: compreender o funcionamento do idioma como um sistema,
depende de familiaridade com o mesmo. Regras e exceções só farão
sentido quando já tivermos desenvolvido intuitivamente a habilidade de falar.
Krashen finalmente conclui que language acquisition é mais eficaz do que
language learning para se alcançar habilidade funcional na língua estrangeira,
e que o ensino de línguas eficiente não é aquele atrelado a um pacote didático
predeterminado nem aquele que utiliza modernos recursos tecnológicos, mas
sim aquele que é individualizado, em ambiente bicultural, que explora as
habilidades pessoais do facilitador em criar situações de comunicação real
voltadas às áreas de interesse do aluno.
REFERENCES
Krashen, Stephen D. Principles and Practice in Second Language Acquisition.
Prentice-Hall International, 1987.
Krashen, Stephen D. Second Language Acquisition and Second Language Learning.
Prentice-Hall International, 1988.
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FONTE:
Schütz, Ricardo. "Assimilação Natural x Ensino Formal." English Made in Brazil
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Um comentário:
e ai marcos blz eu to achando bastante legal esse seu bloog.
hukin
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