Brasileiros falam inglês de 'qualidade muito
baixa', diz pesquisa
País está
na 46ª posição em um ranking que considera 54 países
Às
vésperas de sediar os dois maiores eventos internacionais do planeta — a
Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016 — os brasileiros
apresentam um dos piores desempenhos ao se comunicar em inglês, revela
pesquisa.
De acordo
com o EF English Proficiency Index (EF EPI) de 2012, o País está na 46ª posição
em um ranking que considera 54 países. Cerca de 1,7 milhão de pessoas foram
testadas, 130 mil das quais no Brasil.
Os suecos
são os mais fluentes em inglês, de acordo com a pesquisa. Dinamarca, Holanda,
Finlândia, Noruega, Bélgica, Áustria, Hungria, Alemanha, Polônia e República
Tcheca também dominam o topo do ranking, todos com 'proficiência muito alta' ou
'alta' em inglês.
Tanto no resultado geral quanto no relativo em quase todas as regiões
pesquisadas, as mulheres apresentam inglês de melhor qualidade do que os homens
- no índice geral, elas batem os homens por 53,9 pontos contra 52,14.
O
relatório explica a diferença e faz uma ponderação: "Isto está de acordo
com os níveis crescentes de matrículas no ensino superior entre as mulheres, e
a tendência em muitos países de estudantes do sexo feminino estarem em maior
número nas ciências humanas. Alguns países diferem deste padrão, com homens
marcando mais pontos, o que é explicado por amplo hiato de gênero em regiões
como Oriente Médio e Norte da África, com pontuação superior a cinco pontos
para os homens."
Resultado
ruim na América Latina
A América
Latina tem um desempenho baixo, e o Brasil fica atrás da Argentina (o melhor
colocado na região, único com 'proficiência moderada' no continente, e em 20º
lugar no ranking geral), Uruguai, Peru, Costa Rica, México, Chile, Venezuela,
El Salvador e Equador.
O relatório do EF EPI ressalta que o chamado analfabetismo funcional — ou
seja, a incapacidade de pessoas alfabetizadas entenderem o que está escrito —
tem grande influência na posição do Brasil, e constitui-se em um limitador para
o aprendizado de línguas, o que explicaria a 'proficiência muito baixa'.
O estudo
Pisa, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
constatou em 2009 que na América Latina 48% dos jovens de 15 anos de idade não
podem executar tarefas rudimentares em leitura, percentual que sobe para 62%
entre os estudantes de baixa renda.
"Claramente,
se as competências de compreensão da língua escrita são escassas, o inglês vai
cair no esquecimento", diz o relatório.
Vice-presidente
sênior da Education First, entidade privada que realiza a pesquisa, Michael Lu
afirma que o domínio do inglês está diretamente ligado à inovação e
competitividade.
"Menos
inglês significa menores inovação, comércio e receita", avalia, em
entrevista à BBC Brasil. "Educação pública tem um papel importante nisso.
E, embora haja mudanças no Brasil, elas são recentes e não sabemos ainda qual
será o impacto sobre o aprendizado de inglês", complementa.
A
pesquisa mostra, por exemplo, que há grandes disparidades entre os BRICs,
nações em desenvolvimento que competem para ser as futuras superpotências econômicas.
O Brasil está classificado em 46º no EF EPI, muito atrás de China, que aparece
em 36º, Rússia, em 29º, ou Índia - onde o inglês é língua oficial - em 14º.
"Brasil
e China vivem uma situação semelhante. As pessoas não dão muita atenção porque
o mercado interno é forte e aparentemente basta a elas negociar internamente,
na língua local", avalia Lu.
O
relatório do EF EPI sugere que a qualidade do inglês falado interfere nas
condições econômicas, e lembra que Itália, Grécia e Portugal — países que
mais sofrem com a crise europeía — estão entre os piores no ranking na
região.
Rio fala
inglês melhor
No Brasil, a cidade que apresenta a melhor pontuação em inglês é o Rio de
Janeiro, seguido por São Paulo, Brasília e Belo Horizonte. Estas cidades têm
'baixa proficiência' em inglês, enquanto o Brasil, como um todo, tem 'muito
baixa proficiência'.
Em
relação ao ranking de 2011, o Brasil caiu 15 colocações, diferença explicada
pela entrada de dez países na pesquisa, todos com melhor qualidade em
inglês. De um ano para o outro, também houve mudança na metodologia e foi
excluída a compreensão da língua falada, o que também afetou negativamente a
posição do Brasil.
Michael
Lu informou que a Education First mantém conversas com o Comitê Organizador da
Rio 2016 para ajudar no ensino de inglês no Brasil. A entidade já prestou
serviços semelhantes em jogos anteriores, como na China e na Rússia.
FONTE: r7.com.br